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Os lugares de espectáculo, tais como os teatros, os anfiteatros e os circos foram, nas províncias, uma das formas utilizadas para facilitar o processo de Romanização, pois incentivavam as deslocações periódicas dos rurais à cidade, sendo ainda os locais ideais para a expansão da mística imperialista.
A construção de um hipódromo ou circo em Miróbriga deve ter obedecido aos mesmos princípios, contribuindo para consumar a ideologia imperial.
Embora não sejam conhecidos quaisquer mecenas ou evergetas que possam ter contribuído para o financiamento da sua edificação, como aconteceu em muitos edifícios monumentais do Império, existe, contudo, uma inscrição com invocatória a Esculápio, a que já fizémos referência, atestando um legado testamentário feito por um medicus pacensis, Gaio Átio Januário, que deixou dinheiro ao conselho municipal para que organizasse os quinquatrus, jogos que possivelmente se realizariam no hipódromo.
O hipódromo de Miróbriga dista aproximadamente 1Km em linha recta da zona central do aglomerado urbano, como acontece em muitos locais de espectáculo com estas características, que são afastados por motivos práticos, dada a grande afluência de público.
O acesso ao hipódromo ou circo de Miróbriga deveria fazer-se através de uma fachada que se localizava frontalmente em relação a uma estrada de saída do aglomerado urbano. Justifica-se, desse modo, o facto da entrada se fazer de costas viradas para o centro da cidade.
Reconhecido por Cruz e Silva em 1949 quando da construção de uma estrada que afectou parcelarmente a zona da entrada, este estudioso promoveu trabalhos arqueológicos no local e efectuou a primeira planta conjectural do hipódromo Posteriormente o imóvel foi escavado por D. Fernando de Almeida, tendo sido ainda efectuadas sondagens pela equipa luso-americana, que contribuiram para definir mais exactamente as suas características, e feito novo levantamento das suas estruturas, o mais actualizado até este momento.
Podendo considerar-se um recinto de média proporção, se comparado com o de Mérida e o de Todelo, a arena de Miróbriga é, contudo, de maior dimensão do que a do circo de Tarragona. O hipódromo de Miróbriga mede aproximadamente 359m de comprido por 77,5m de largo.
Este lugar de espectáculo está orientado NE/SW, orientação que é considerada a conveniente para não ofuscar os agitadores ou aurigae a qualquer hora do dia. A sua implantação foi condicionada pela topografia do local, que aqui é incomparavelmente mais plano do que o sítio onde cresceu o aglomerado urbano.
Do hipódromo conhecem-se as fundações da spina, construída em opus caementicium, e os limites da arena. Pesem os restauros e reconstituições parcelares, é clara a evidência de metae - meta prima e meta secunda. Ainda é visível o revestimento que era utilizado em grande parte da spina, tratando-se de opus signinum, a exemplo do que sucede no circo de Mérida e no recentemente posto a descoberto de Olisipo.
Os muros que delimitam a arena são simples, construídos em opus caementicium, variando a sua grossura entre 60 a 90cm. A construção do hipódromo deve datar do século II d. C. e o auge da sua utilização terá correspondido ao século III d. C., seguida do seu declínio a partir de finais dessa centúria.
No lado sul do circo situam-se algumas construções que D. Fernando de Almeida identificou como tratando-se dos carceres, comparando-o ao circo de Mérida.
De bancadas perenes ou pétreas e do derrube das mesmas não existem quaisquer referências ou vestígios arqueológicos. Pode admitir-se, portanto, que as mesmas fossem construídas de madeira, suportadas por postes feitos do mesmo material. Nunca poderiam, portanto, ter tido a monumentalidade das reconhecidas em circos da Hispânia.
Por seu lado, a pista deveria ser térrea, pois é visível ao longo da spina uma camada de terra muito escura e compactada.
A partir de artigo publicado em Actas so Encontro sobre Circos Romanos, Museu Nacional de Arte Romano, Mérida.
Proposta de reconstituição do Hipódromo: Andrea Alves e Nuno Cruz
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