O Sol, esse Património Universal
Filomena Barata
Crónica Publicada na Revista Setúbal na Rede
Quis o momento que esta crónica fosse as que com mais dificuldades
escrevi.
Regressada há uma semana da terra que me viu nascer, Angola, onde o
Atlântico nos oferece praias sem fim, quando em Portugal, através do Projecto
Portugal Romano, havíamos inaugurado o mês de Agosto a falar desse Oceano,
sinto-me ainda como que num ponto no meio do mar.
Numa ilha pequena, talvez olhando o Sol a poisar-se devagar, ou um ponto
entre a terra vermelha com árvores quase descabeladas a marcar a paisagem,
silhuetas feitas de catos e imbondeiros, e um Portugal cujo Património deu ao
Mundo a língua, costumes, tradições e uma arquitectura cujo estudo e
conservação há que garantir a curto prazo.
Sinto-me ainda com desejo de mergulhar, numa viagem sem tempo e
regressar para a minha terra-mãe, onde o sol se deita a maioria das vezes rubro
como as rosas, mas a vida exige-me que fique deste lado do Atlântico, tentando
semear devagarinho, para que um dia o «disperso se una num só», esperando que a
Luz me acompanhe nessa Viagem.
E, porque, ao Atlântico que une os dois países de que sou cidadã, Angola
e Portugal, já havia dedicado alguns pequenos trabalhos, aproveito este espaço
para falar do Sol que, embora mais para uns do que para outros, ainda nasce
para todos, pois, pelos motivos enunciados me sinto incapaz de falar hoje de um
lugar específico.
Assim honrarei, agora que se aproxima o fim do Verão e em que os dias
vão encurtando já, esse Astro que,
pela sua força energética, condiciona a vida na Terra, e que, por isso mesmo
foi reverenciado por muitas culturas e tradições, que o reconheciam como uma
das principais forças no universo.
Adorado desde as primeiras sociedades nómadas, ao Egipto com Rá, o deus da "barca solar", o seu culto prevalece do Oriente ao Ocidente mediterrânico em época Greco-romana.
Adorado desde as primeiras sociedades nómadas, ao Egipto com Rá, o deus da "barca solar", o seu culto prevalece do Oriente ao Ocidente mediterrânico em época Greco-romana.
O
Sol com a força vivificante dos seus raios desempenha genericamente o papel
masculino e patriarcal e, por isso foi associado quer a Febos, quer a Hórus e
mesmo a Mitra, essa divindade monoteísta que os soldados romanos importam do
Oriente.
Ao
contrário da Lua, o Sol que tem luz própria, é afinal a própria essência da
Luz, e é quase sempre interpretado como símbolo masculino e por isso associado
ao princípio Yang.
Ou seja, representa em muitos culturas, se bem que nem em todas, o princípio activo, enquanto a Lua é considerada um princípio passivo.
Ou seja, representa em muitos culturas, se bem que nem em todas, o princípio activo, enquanto a Lua é considerada um princípio passivo.
Ao
Sol associa-se a noção de calor e de Vida, pois sem ele nada sobrevive.
Na
Alquimia ele corresponde ao Ouro, encarnando a ideia do espírito imutável.
Sendo
muitas bem vezes invocado como "olho omnipresente do Sol", como
acontece no «Prometeu Agrilhoado», de Ésquilo, onde se adivinha a influência
persa, pois ali Ormuzd é o mestre e
criador do mundo, soberano, onisciente, deus da ordem, e o Sol é seu olho, o
céu suas vestes bordadas de estrelas, na lenda mitológica grega prometeu é castigado por
roubar o Fogo do Olimpo e dá-lo aos Homens. Também para os Bosquímanos o Sol funciona como o "Olho do
Deus Supremo".
O Sol ou Ormuzd, para os Persas, enquanto fonte de Luz, representava a Vida, a Saúde e a Fertilidade da terra enquanto criadora de todas as coisas necessárias à sobrevivência do Homem; por sua vez, à Lua ou Ahrimã, atribuíam-lhe forças maléficas; as trevas e a esterilidade da Terra.
O Sol ou Ormuzd, para os Persas, enquanto fonte de Luz, representava a Vida, a Saúde e a Fertilidade da terra enquanto criadora de todas as coisas necessárias à sobrevivência do Homem; por sua vez, à Lua ou Ahrimã, atribuíam-lhe forças maléficas; as trevas e a esterilidade da Terra.
As forças de Ahrimã, princípio
da obscuridade, da desordem, do mal, são repelidas por Ormuzd, deus da luz, da
ordem e do bem, que usa como arma o relâmpago, Atar.
Por
sua vez, Mitra, essa divindade também de origem persa que os soldados romanos
importaram para o Império, surge assim como um terceiro elemento, como uma
espécie de divindade mediadora entre duas forças antagónicas, viabilizando o
nascer de um novo dia, ou seja, não permitindo que a Lua ocultasse o Sol.
Mais do que o Sol, Mitra representa a Luz Celestial, ou a essência da Luz, que desponta antes do Astro-Rei raiar e que ainda ilumina depois dele se pôr e, porque dissipa as trevas, é também o deus da Integridade, da Verdade e da Fertilidade, motivo pelo que também surge associado à força genésica do Touro.
Mais do que o Sol, Mitra representa a Luz Celestial, ou a essência da Luz, que desponta antes do Astro-Rei raiar e que ainda ilumina depois dele se pôr e, porque dissipa as trevas, é também o deus da Integridade, da Verdade e da Fertilidade, motivo pelo que também surge associado à força genésica do Touro.
Mitra,
ou Mithras, cujo nome significa em Sânscrito «Amigo»; em Persa quer dizer
«Contrato», trata-se de um Deus luminoso que incita os homens a seguirem o Seu
caminho no combate pela Luz contra as Trevas.
Mitra tem naturalmente a força da LUZ, porque é a síntese da Luz do Sol e da Lua, e o Seu dia o Domingo é o dia dedicado ao seu culto. (no Latim pagão, domingo é «Dies Solis», ou «Dia do Sol»).
Talvez por isso mesmo a data do seu nascimento corresponda, tal como o nascimento de Jesus Cristo, ao Solstício de Inverno, momento a partir do qual os dias çomeçam novamente a crescer.
Em Roma, o culto do Sol remonta à sua fundação e ao que se conhece existiria um santuário dedicado Sol Indiges no Quirinal, construído por Tácio, rei dos sabinos.
E existiria um templo do Sol (assim como um para a Lua) no Circus Maximus, onde corridas de bigas decorreriam sob os auspícios dessas divindades (Tácito, Anais , XV.74; Tertuliano, De spectaculis , VIII.1) .
Quer as festividades que se desenrolariam na Colina do Quirinal, bem como a fundação do templo se desenrolariam em Agosto, quando o calor do sol é mais intenso.
Em Roma, em 219 d.C., quando o imperador Heliogábalo havia regressado da Síria, onde ele tinha sido o sacerdote hereditário do deus sol Elagabal, introduz-se o culto do Sol Invictus.
Mitra tem naturalmente a força da LUZ, porque é a síntese da Luz do Sol e da Lua, e o Seu dia o Domingo é o dia dedicado ao seu culto. (no Latim pagão, domingo é «Dies Solis», ou «Dia do Sol»).
Talvez por isso mesmo a data do seu nascimento corresponda, tal como o nascimento de Jesus Cristo, ao Solstício de Inverno, momento a partir do qual os dias çomeçam novamente a crescer.
Em Roma, o culto do Sol remonta à sua fundação e ao que se conhece existiria um santuário dedicado Sol Indiges no Quirinal, construído por Tácio, rei dos sabinos.
E existiria um templo do Sol (assim como um para a Lua) no Circus Maximus, onde corridas de bigas decorreriam sob os auspícios dessas divindades (Tácito, Anais , XV.74; Tertuliano, De spectaculis , VIII.1) .
Quer as festividades que se desenrolariam na Colina do Quirinal, bem como a fundação do templo se desenrolariam em Agosto, quando o calor do sol é mais intenso.
Em Roma, em 219 d.C., quando o imperador Heliogábalo havia regressado da Síria, onde ele tinha sido o sacerdote hereditário do deus sol Elagabal, introduz-se o culto do Sol Invictus.
Ao que dizem as memórias latinas,
Heliogábalo, imperador da Dinastia Severa, nascido em Emesa Síria, em c. 203
d.C. e assassinado a 11 de Março de 222 d.C. que reinou entre 218 e o ano da sua morte, ampliou em 219 d.C. o templo de Júpiter Ultor tentando manter os
anteriores deuses romanos, por um lado, «mas também os de todo o mundo, e seu
único desejo é que o deus Heliogábalo deve ser adorado em todos os lugares"
(Historia Augusta , VI.7).
Ápós o assassinato do jovem imperador, três anos
depois, o culto foi suprimido, para ser restabelecido meio século depois pelo
imperador Aureliano (foi imperador entre 270-275), que erigiu um magnífico
templo de Sol no Campus Agrippae (
Historia Augusta , XXV.6, XXXV.3, XXXIX.6; Aurelius Victor, XXXV.7; Eutrópio,
IX.15.1).
Ao
que dizem as fontes, terá sido em 274 d.C. um ano depois, do regresso do imperador
da conquista de Palmira, onde vira "uma forma divina" (Sol) apoiá-lo
na batalha contra Zenobia (XXV.3, 5).
«A
partir daí, Aureliano identificou-se como a personificação do deus, que foi
proclamado o protetor divino do imperador. A festa do solstício de inverno,
quando os dias escuros do inverno começou a alongar e clarear, era conhecido
como Natalis Solis Invicti , o
aniversário do Sol invencível. (Mithras foi outra divindade solar oriental cuja
festa foi celebrada em 25 de dezembro, seus ritos introduziu a Roma no primeiro
século d.C por piratas cilícios, segundo Plutarco, Vida de Pompeu , XXIV.5)».
Ver:http://penelope.uchicago.edu/~grout/encyclopaedia_romana/calendar/invictus.html
Ver:http://penelope.uchicago.edu/~grout/encyclopaedia_romana/calendar/invictus.html
Deixemos,
pois, que o Sol se vá escondendo mais cedo no Outono que se aproxima, sob os
auspícios de Baco, cuja hera dará frutos, para que breve possamos provar o
vinho novo e as castanhas que nos aquecerão as tardes mais frias.
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